Gabriela Romeu/Folhapress
Na casa de farinha, crianças ajudam a raspar mandioca
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Crianças dançam jongo
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Cleian Alves, 9, mostra avião feito com mandioca
GABRIELA ROMEU
ENVIADA ESPECIAL A SÃO MATEUS (ES)
No tempo em que a noite era iluminada só por lamparinas e vagalumes, os mais velhos contavam histórias de uma mulher malvada, dona de escravos, que virou uma enorme serpente.
Dona Luzinete dos Santos Nascimento era menina quando ouvia falar sobre o tal "bicho ruim, que vivia acorrentado". "Quando a serpente dava um esturro, botava uma unha pra fora. E uma só unha dela era do tamanho de uma enxada", lembra.
Falando baixinho, ela puxa da memória as histórias que contava sua tia-avó, Ana Carvalho, filha de Clara, negra que viveu no tempo da escravidão.
Por medo ou por tristeza, nem sempre a tal serpente é lembrada na comunidade de São Cristovão, no interior de São Mateus (ES), onde vive um dos grupos quilombolas (descendentes de escravos).
Mas a memória do povo de lá é viva das tradições de seus antepassados. Nas casas de farinha, por exemplo, fazem deliciosos beijus. Vez ou outra uma moça crescida lembra como era brincar com boneca feita de mandioca, braços de gravetos e olhos de pimenta.
"Tenho orgulho de ser quilombola e conhecer a história do meu povo", conta Clarice Tomaz dos Santos, 12.
Se tem tambor largado num canto, tem menino batucando em São Cristovão. Os tambores vieram na memória dos africanos que foram arrancados de suas terras.
Aqui seus sons se espalharam e ecoam em brincadeiras como o jongo, que também mistura dança e cantoria.
"Nosso povo antigo falava que os escravos brincavam o jongo quando os senhores estavam nos banquetes.
Como não podiam participar, eles cá faziam a brincadeira", diz Sebastião do Nascimento, o Seu Bibi.
Na região, o jongo é batizado com nome de santo. Foi numa promessa a santo Antônio que o tio de Seu Bibi criou o jongo de lá. Então, em todo dia 13/6, ele fazia uma festança. O povo cantava e dançava noite adentro.
Um dia o tio morreu e o jongo ficou esquecido. Mas, de uns anos para cá, os mais velhos estão resgatando a tradição e até as crianças caem na brincadeira. É um jeito de essa história nunca ter fim.
Folha de SP
ENVIADA ESPECIAL A SÃO MATEUS (ES)
No tempo em que a noite era iluminada só por lamparinas e vagalumes, os mais velhos contavam histórias de uma mulher malvada, dona de escravos, que virou uma enorme serpente.
Dona Luzinete dos Santos Nascimento era menina quando ouvia falar sobre o tal "bicho ruim, que vivia acorrentado". "Quando a serpente dava um esturro, botava uma unha pra fora. E uma só unha dela era do tamanho de uma enxada", lembra.
Falando baixinho, ela puxa da memória as histórias que contava sua tia-avó, Ana Carvalho, filha de Clara, negra que viveu no tempo da escravidão.
Por medo ou por tristeza, nem sempre a tal serpente é lembrada na comunidade de São Cristovão, no interior de São Mateus (ES), onde vive um dos grupos quilombolas (descendentes de escravos).
Mas a memória do povo de lá é viva das tradições de seus antepassados. Nas casas de farinha, por exemplo, fazem deliciosos beijus. Vez ou outra uma moça crescida lembra como era brincar com boneca feita de mandioca, braços de gravetos e olhos de pimenta.
"Tenho orgulho de ser quilombola e conhecer a história do meu povo", conta Clarice Tomaz dos Santos, 12.
Se tem tambor largado num canto, tem menino batucando em São Cristovão. Os tambores vieram na memória dos africanos que foram arrancados de suas terras.
Aqui seus sons se espalharam e ecoam em brincadeiras como o jongo, que também mistura dança e cantoria.
"Nosso povo antigo falava que os escravos brincavam o jongo quando os senhores estavam nos banquetes.
Como não podiam participar, eles cá faziam a brincadeira", diz Sebastião do Nascimento, o Seu Bibi.
Na região, o jongo é batizado com nome de santo. Foi numa promessa a santo Antônio que o tio de Seu Bibi criou o jongo de lá. Então, em todo dia 13/6, ele fazia uma festança. O povo cantava e dançava noite adentro.
Um dia o tio morreu e o jongo ficou esquecido. Mas, de uns anos para cá, os mais velhos estão resgatando a tradição e até as crianças caem na brincadeira. É um jeito de essa história nunca ter fim.
Folha de SP
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