segunda-feira, 9 de maio de 2011

Sobre Educação e Paulo Freire

Em tempos onde na educação a palavra corrente é “pós” (pós-moderno, pós-estruturalista, pós-pós) e onde defender uma teoria dita da modernidade é quase um pecado, falar de Paulo Freire parece no mínimo démodé. Entretanto, em minha viagens recentes devo admitir que me senti um tanto embaraçado por não conhecer sua obra mais a fundo. Ouvi muito mais referências ao trabalho dele do que ao de Foucault ou Deleuze, e como pesquisador brasileiro trabalhando na área de educação, sentia uma lacuna em conhecer o trabalho dele apenas pela obra de terceiros.

Para estudar Paulo Freire optei por uma abordagem cronológica, lendo as suas obras ditas mais relevantes por ordem de publicação. Comecei por Educação como Prática de Liberdade e em seguida fui para Pedagogia do Oprimido. Devo confessar que foi uma leitura intelectualmente excitante e prazerosa, e não me admira que ele seja apontado como um dos maiores pensadores da educação do século XX, ao lado de nomes como Piaget, Dewey e Montessori.

Entre os vários trechos que achei brilhantes, transcrevo dois trechos abaixo, os quais julgo ter a ver com dúvidas que eventualmente retornam ao imaginário lecniano. Devo admitir que ele expressa um sentimento meu em relação a algumas experiências que tive na educação.

Quase sempre, ao se criticar êsse gôsto da palavra ôca, da verbosidade, em nossa educação, se diz dela que seu pecado é ser “teórica”. Identifica-se assim, absurdamente, teoria como verbalismo. De teoria, na verdade, precisamos nós. De teoria que implica numa inserção na realidade, num contato analítico com o existente, para comprová-lo, para vivê-lo e vivê-lo plenamente, pràticamente. Nesse sentido é que teorizar é contemplar. Não no sentido destorcido que lhe damos, de oposição à realidade. De abstração. Nossa educação não é teórica porque lhe falta êsse gôsto da comprovação, da invenção, da pesquisa. Ela é verbosa. Palavresca. É “sonora”. É “assistencializadora”. Não comunica. Faz comunicados, coisas diferentes. (Educação como prática de Liberdade, pág. 93)

A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade. Não pode fugir a discussão criadora, sob pena de ser uma farsa. Como aprender a discutir e a debater com uma educação que impõe? (Educação como prática de Liberdade, pág. 93)

Não vou fazer análises pois acho que as palavras de Paulo Freire valem por sí mesmas. Meu objetivo era só compartilhar meu entusiamos incontido por essa leitura.

Fonte: http://www.jbittencourt.com/2008/04/08/sobre-educacao-e-paulo-freire/

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